Buenos Aires - A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, tomou posse neste sábado para o segundo mandato, que vai até 2015, durante cerimônia no Congresso Nacional. Ao prestar juramento, recordou o marido falecido e antecessor, Néstor Kirchner (2003-2007), com a frase "Que Deus, a pátria e ele me demandem", caso não cumpra as expectativas do mandato.
A presidente, de 58 anos, vestida de luto fechado, mais de um ano depois da morte de Néstor Kirchner, recebeu a faixa presidencial das mãos da filha Florencia, não do vice-presidente Julio Cobos, como deveria acontecer. Cobos tornou-se seu inimigo, ao votar contra ela em 2008, durante a crise dos agricultores no Senado. Mas ele esteve presente na solenidade, o que foi motivo, antes, de muitas especulações.
"Hoje, como podem imaginar, não é um dia fácil para a presidente", falou Kirchner, ao lembrar, com a voz embargada, a morte do marido que, há quatro anos, em 2007, passou a ela o comando do país.O falecimento do marido, vitimado por uma crise cardíaca, a seu lado, no dia 27 de outubro de 2010, permitiu a ela transmitir a imagem de uma pessoa mais sensível e menos autoritária. "Cristina, Cristina", gritavam milhares de jovens, em frente ao Congresso e que acompanhavam a cerimônia por uma tela gigante.
Vários chefes de Governo latino-americanos estavam presentes, entre eles, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e os do Uruguai, José Mujica; Chile, Sebastián Piñera; Paraguai, Fernando Lugo, e da Bolívia, Evo Morales.A presidente, uma advogada peronista, conquistou o segundo mandato consecutivo nas eleições de outubro passado, quando obteve 54,11% dos votos.
Chegou ao Congresso escoltada por um grupo de "granaderos" a cavalo. Declarou-se decidida a manter o modelo industrialização do país e de incentivo ao consumo, apesar da ameaça da crise europeia. No discurso de posse, Cristina Kirchner comparou neste sábado a crise econômica na Europa com a vivida pelo país há dez anos. "A situação na Europa é um espelho da Argentina de 2001, quando o país conheceu a pior crise econômica de sua história", disse.
Lembrou que o drama do default na Argentina fazendo com que o país obtivesse as piores notas das agências de classificação de risco, é enfrentado, hoje, por outros países, em alusão à situação em várias nações europeias. O governo de seu marido e antecesor Néstor Kirchner (2003-2007) aplicou uma política voltada para desendividar o país e estimular o mercado interno para tirar a Argentina da moratória declarada em 2001 de 100 bilhões de dólares, a maior da história.
Ela criticou, neste sentido, que o modelo predominante em nível internacional "não se baseie na economia real, mas na financeira". "Nada nem ninguém poderá nos obrigar a mudar de rumo", havia dito na quarta-feira, quando o governo suprimiu uma parte das subvenções dadas nos setores de energia elétrica e transportes, além de tomar medidas draconianas para lutar contra a fuga de capitais.
Cristina Kirchner decidiu nomear um novo chefe de governo, Juan Manuel Abal Medina, 43 anos, e um novo ministro da Economia, Hernan Lorenzino, 39 anos, confirmando a maioria deles. "A presidente inicia um segundo mandato numa situação política mais confortável que em 2007, mas num contexto econômico mais difícil", explicou Rosendo Fraga, do Instituto Nueva Mayoria. "A crise mundial ameaça aqui como em outros lugares", acrescentou.
O país registrou, desde o início do ano, perdas de cerca de 5 bilhões de dólares em reservas do Banco Central. O modelo econômico da Argentina dos Kirchner (2003-2011), baseado nas subvenções do Estado, permitiu aumentar o consumo das famílias em 4% por ano e obter um crescimento de 8% em média desde 2003 - com exceção de 2009 (0,9%).
Fonte:France Presse - foto AFP
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