Genebra, 3 mar (EFE).- A Rússia ignorou nesta segunda-feira na sede da
ONU as reivindicações internacionais para que mude de postura e retire
as tropas enviadas à Crimeia, e se limitou a afirmar que suas ações
respondem à defesa dos direitos fundamentais dos russos que vivem na
Ucrânia.
"Os que tomaram o poder na Ucrânia estão impondo sua vitória para
atacar os direitos fundamentais dos russos. É preciso defender-se desta
agressão", afirmou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei
Lavrov, na 25ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que
começou hoje em Genebra.
A defesa dos direitos fundamentais dos russos, ameaçados, segundo
Lavrov, pelas ações das novas autoridades ucranianas, foi o fio condutor
de seu discurso, no qual não houve lugar para a autocrítica ou
relativizações.
Lavrov defendeu a bondade, necessidade e legalidade do pedido do
Kremlin de pedir autorização ao Senado para enviar suas tropas na
Crimeia, província autônoma ucraniana de maioria de origem russa.
A Crimeia foi parte da Rússia até 1954, quando o então líder
soviético, Nikita Kruschev, a presenteou à Ucrânia, e abriga em seu
território a base da frota russa do Mar Negro.
O Senado russo concedeu a autorização e durante o fim de semana forças militares russas tomaram posições na Crimeia.
Para o chanceler, não há nenhuma dúvida que os que governam em Kiev
são "radicais antidemocráticos" que tomaram o poder de forma ilegítima e
por isso a Federação Russa considera que tem o dever de "defender" os
"irmãos russos" residentes na Ucrânia.
E advertiu que as forças russas permanecerão na Crimeia "até que se
respeitem os direitos dos russos e se normalize a situação política".
O poder na Ucrânia está agora nas mãos de um governo interino
presidido por Aleksandr Turchinov desde que uma revolta civil conseguiu
desbancar o anterior líder, Viktor Yanukovich, no último dia 22 de
fevereiro.
De nada serviram os discursos pronunciados no Conselho por líderes
ocidentais, especialmente europeus, nem os pedidos explícitos do
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que solicitou à Rússia que a
"independência, a segurança, e a integridade territorial" da Ucrânia
fossem preservadas.
Estas palavras de Ban foram pronunciadas em entrevista coletiva,
pouco antes que se reunisse para almoçar com Lavrov, para, entre outros
temas, tratar a crise na Ucrânia.
Do transmitido pelos serviços de informação da ONU se imagina que Ban
não teve sorte em suas tentativas de convencer Lavrov da necessidade de
"frear" e de comprometer-se com a via do diálogo.
No encontro com a imprensa, Ban tinha confessado que sua conversa de
sábado com o presidente russo, Vladimir Putin, também não tinha dado
nenhum fruto.
Em nome da União Europeia falou Dimitris Kourkoulas, vice-ministro
das Relações Exteriores da Grécia, país que exerce neste semestre a
presidência do bloco, que criticou abertamente a intervenção militar
russa.
"A União Europeia está extremamente preocupada com o que ocorre na
Ucrânia. Estas ações violam a Carta das Nações Unidas, à qual a Rússia
está submetida", disse o ministro grego.
Kourkoulas aproveitou a ocasião para aplaudir "a comedida resposta"
do governo interino da Ucrânia "até o momento" e deixar claro que a UE
apoiará os esforços que o país faça para estabilizar a situação e fazer
as reformas necessárias "com respeito aos direitos das pessoas
pertencentes a minorias nacionais".
Mais dramático foi o presidente da Confederação Helvética, Didier
Burkhalter, presidente rotativo da Organização para a Cooperação e a
Segurança na Europa (OSCE), que afirmou que os eventos na Ucrânia
demonstram que a paz e a segurança na Europa "não estão asseguradas".
O grande ausente da jornada foram os Estados Unidos, que não
participaram do segmento de alto nível da sessão do Conselho como estava
previsto.
Inicialmente, a embaixadora americana nas Nações Unidas em Nova York,
Samantha Power, devia discursar hoje em Genebra, mas sua viagem foi
cancelada e, até o momento, não foi justificada.
Fonte:Yahoo.com
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