O governo brasileiro já fala na possibilidade de renovar o programa Mais
Médicos por mais alguns anos, mesmo que a iniciativa não tenha
completado sequer seu primeiro ano de vida. Em entrevista a jornais
brasileiros nesta segunda-feira, 19, em Genebra, o ministro da Saúde,
Arthur Chioro, deixou aberta a possibilidade de uma renovação além dos
três anos originalmente planejados diante da constatação de que o País
precisará de mais tempo para formar novos médicos que possam atuar nas
regiões supridas pelo programa.
"Muito provavelmente será necessário renovar (o programa) mais uma vez",
declarou Chioro. Em 2013, quando o programa foi criado, o governo
insistiu que se tratava de uma medida de urgência e que tinha como
objetivo suprir um déficit de médicos em diferentes regiões do País.
Agora, o governo não descarta que o projeto seja renovado. Se ele for
estendido por mais três anos a partir de 2016, o projeto terminaria
apenas em 2019. Mas o governo garante que estudará a situação de cada
região caso a caso.
No total, 14,1 mil médicos passaram a fazer parte do programa, com uma
presença importante de profissionais cubanos. O programa envolve 1,4 mil
médicos brasileiros, além de outros 1,2 mil médicos brasileiros que
estudavam ou atuavam no exterior e voltaram ao Brasil para o projeto. O
restante foi preenchido por mais de 10 mil cubanos. "A regra foi super
republicana", explicou Chioro. "Só podem pedir (o programa) municípios
que estivessem dentro do critério que estabelecemos. Além disso, os
primeiros a escolher onde queriam ir foram os brasileiros. O que sobrava
foi para os cubanos", disse o ministro, apontando que muitos foram para
áreas indígenas e para o sertão. "Eles não tinham muita escolha",
disse.
O ministro aponta que cada uma das cidades atendidas será avaliada antes
de uma eventual renovação e uma das esperanças é de que as vagas hoje
preenchidas pelo Mais Médicos comece a ser ocupada por brasileiros que
decidam permanecer nos municípios. Segundo ele, só entre 2013 e 2014,
mais de mil brasileiros acabaram ficando nesses locais. Chioro promete
publicar nas próximas semanas resultados que apontam o impacto positivo
da presença dos médicos. "As primeiras avaliações são fantásticas",
disse. "Consolidamos o programa. Tínhamos 13,3 mil médicos e
identificamos mais 180 cidades muito vulneráveis que não haviam aderido
ao programa. A presidente Dilma Rousseff nos autorizou a fazer um quinto
e último ciclo e 111 cidades aceitaram o projeto. Hoje, temos 14,1 mil
médicos e atendemos 100% da demanda dos municípios", comemorou.
Plano.
O ministro garante que, enquanto o plano emergencial é colocado em
prática, as ações do governo não se limitam a importar médicos. Mas
alerta que a formação de novos médicos pode levar de seis a nove anos.
"Quem equacionou a questão da falta de médico não abriu mão de uma
coisa: que o Estado regule a formação da força de trabalho em saúde",
disse. Até 2017, 11,4 mil novas vagas serão abertas para o curso de
Medicina no Brasil. Na semana passada, seis universidades do Norte e
Nordeste anunciaram a ampliação de seus cursos e a construção de novos
câmpus em cidades do interior. Segundo o ministro, outras 49 cidades que
não têm faculdade de Medicina estão sendo vistoriadas para abrir edital
de novas universidades. Outra medida para suprir o déficit de médicos
em algumas regiões é ainda a de garantir a residência para profissionais
em diversos locais do País, e não apenas nas grandes cidades. "Esse é
um fator de fixação", disse.
Perfil.
O Ministério da Saúde também quer uma mudança no perfil dos médicos
formados no Brasil. A grande curricular das faculdades mudou para
colocar 30% da grade curricular de Medicina voltada à formação em
atendimento básico. Para a residência, será necessário um ou dois anos
de saúde familiar como precondição para que o aluno possa ir para sua
especialidade.