Seis anos depois da crise de 2008, o presidente Barack Obama declarou
vitória sobre a mais longa recuperação econômica dos EUA e propôs ontem
ao Congresso "virar a página" com um pacote de medidas redistributivas,
que aumentam a tributação dos mais ricos para financiar programas em
favor da classe média. Ele também pediu autorização para o uso da força
contra o Estado Islâmico e a aprovação do fim do embargo econômico a
Cuba.
Em seu primeiro discurso sobre o Estado da União desde que
os republicanos assumiram o controle das duas Casas do Congresso, Obama
defendeu sua decisão de retomar relações diplomáticas com a ilha,
encerrando um rompimento de 53 anos.
"Nossa mudança na política
para Cuba tem o potencial de colocar fim a uma herança de desconfiança
no nosso hemisfério, remover uma falsa desculpa para restrições em Cuba,
defender valores democráticos e estender a mão da amizade ao povo
cubano", afirmou. A esmagadora vitória dos republicanos nas eleições legislativas de
novembro não intimidou o presidente, que lançou mão de decretos para
mudar a política para Cuba e suspender a deportação de milhões de
imigrantes ilegais, o que azedou sua relação com a oposição.
Ontem,
Obama deixou claro que pretende manter a iniciativa nos dois anos que
lhe restam de mandato. "Eu não tenho mais campanhas para disputar",
declarou. Apesar de reconhecer as divergências, pediu apoio a suas
propostas e prometeu trabalhar com os republicanos.
"Nós estamos
há 15 anos nesse novo século. Quinze anos que começaram com o terror
tocando nossas margens, que se desenrolaram com uma nova geração lutando
duas guerras longas e custosas, que viram uma recessão cruel se
espalhar por nossa nação e pelo mundo. Esse foi, e ainda é, um momento
duro para muitos. Mas hoje à noite, nós viramos a página."
Depois
de seis anos de lenta recuperação, a economia parece ter se firmado em
uma trajetória ascendente. Os bons números deram impulso à aprovação do
presidente, que enfrentará um Congresso que continua profundamente
impopular.
Apesar da aceleração no crescimento, a renda média dos
americanos se mantém estagnada, enquanto os ganhos financeiros dos mais
ricos sobem no ritmo das altas recordes da Bolsa de Valores de Nova
York. "Nós vamos aceitar uma economia na qual apenas alguns se dão
espetacularmente bem? Ou vamos nos comprometer com uma economia que gera
crescentes rendimentos e chances para todos os que se esforçam?",
perguntou Obama, defendendo o que chamou de "economia da classe média".
Para
reverter a desigualdade, ele propôs elevar impostos sobre ganhos de
capital dos mais ricos. Se aprovadas, as medidas vão gerar receita de
US$ 320 bilhões em dez anos. Esses recursos seriam utilizados para
financiar benefícios que reduziriam a carga tributária da classe média,
amenizando a anêmica recuperação de renda. Também seriam destinados a
dar a 9 milhões de estudantes acesso gratuito a faculdades comunitárias,
medida que consumiria US$ 60 bilhões nos próximos dez anos e enfrenta
forte resistência da oposição.
Aumentos de impostos são
rejeitados de maneira dogmática pelos republicanos, que veem a maior
tributação como uma ameaça aos investimentos e à livre economia.
Pesquisas de opinião, no entanto, mostram que a maioria dos americanos
acredita que os mais ricos pagam menos impostos do que deveriam.
"O
presidente transferiu aos republicanos o ônus de decidir sobre
propostas que têm apelo popular", disse Gabrielle Trebat, da consultoria
McLarty Associates. "Com o controle do Congresso, os republicanos
passaram a ter responsabilidade na aprovação de políticas."
Obama
terá mais facilidade em obter dos republicanos a autorização para os
ataques contra o Estado Islâmico. Os bombardeios contra posições do
grupo extremista iniciados agosto são feitos com base em legislação
aprovada logo depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. Apesar de
sustentar que as operações são legais, Obama cedeu aos argumentos dos
que defendem a necessidade de uma nova autorização.
Fonte:estadão conteudo - foto AFP
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