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Começa debate sobre a crise global da água sem tempo a perder |
Data Publicação:19/03/2018 |
O Fórum Mundial da Água começou, nesta segunda-feira (19), a debater em Brasília a crise global dos recursos hidrícos, sem "tempo a perder", segundo definiu o presidente Michel Temer na abertura, no Palácio Itamaraty.
Durante a cerimônia, o presidente do Brasil, por onde passam 18% da água potável da Terra, estabeleceu a gigantesca dimensão do desafio dos chefes de Estado, cientistas e ambientalistas que discutirão políticas hídricas até a próxima sexta-feira.
"Assegurar água é assegurar dignidade. Esse é o propósito que naturalmente nos reúne em Brasília", afirmou, acrescentando que "se nos fecharmos em nós mesmos, se atuarmos de forma desarticulada, todos pagaremos um preço. As soluções que buscamos são sempre coletivas".
Temer recordou que "há no mundo cerca de 2 bilhões de pessoas sem uma fonte segura de água em suas casas e sofrendo com a falta de saneamento". Além disso, acrescentou o presidente, há 260 milhões de pessoas que precisam andar mais de meia hora para ter acesso à água.
O 8º Fórum Mundial da Água, que deve contar com 40.000 participantes, coincide com secas que levaram grandes centros urbanos, como a sul-africana Cidade do Cabo, à beira do desabastecimento.
Com as mudanças climáticas e a crescente pressão demográfica como pano de fundo, os especialistas alertam sobre as consequências do consumo desenfreado, a superexploração dos recursos naturais e contaminação dos rios.
Benedito Braga, presidente do World Water Council - entidade com sede em Marselha (França) que organiza o evento - ressaltou que não haverá soluções viáveis sem vontade política e cooperação entre os países.
"Cerca de 97% dos recursos disponíveis de água no mundo estão em aquíferos transfronteiriços. A gestão eficiente das águas compartilhadas é um dos marcos da segurança hídrica", afirmou.
"Precisamos de vontade política. Os governos precisavam colocar a água no centro de suas estratégias de desenvolvimento", apontou.
- Infraestruturas verdes -
Pouco antes do início do fórum, a ONU publicou seu relatório anual focado em uma proposta para aumentar as infraestruturas "verdes", inspiradas na natureza, como alternativa às barragens ou estações de tratamento de água.
Os processos naturais podem "atuar como reguladores, limpadores e fornecedores de água", explicou Richard Connor, editor-chefe do relatório anual da ONU sobre o assunto, em entrevista coletiva em Paris.
Para enfrentar a situação atual, as obras de engenharia civil (as chamadas "infraestruturas cinzas") já não são suficientes, diz ONU-Água e Unesco.
Não se trata de dispensá-las completamente, mas de procurar "a melhor combinação" entre infraestruturas "cinzas" e "verdes", de acordo com Richard Connor.
O relatório usa como exemplo a política da cidade de Nova York de proteger suas três bacias hidrográficas.
Há duas décadas, a cidade de 8,5 milhões de habitantes preserva as florestas e remunera os agricultores menos poluentes.
O resultado é que Nova York "recebe as águas menos poluídas dos Estados Unidos", de acordo com Connor, um processo que também economiza 300 milhões de dólares por ano em seu tratamento.
O Egito tem um projeto piloto nas zonas húmidas de Bilbeis, a 55 quilômetros do Cairo, que permitiu tratar águas residuais e irrigar eucalipto a um custo menor do que as soluções tradicionais.
"Estas soluções são rentáveis", insiste Connor.
- Benefícios adicionais -
Estas soluções "verdes" podem ser aplicadas à agricultura, mas também às "cidades em crescimento", especialmente nos países em desenvolvimento, estima o cientista. "Antes de colocar asfalto e cimento em todos os lugares, deve-se pensar duas vezes e manter mais áreas verdes".
O recurso a sistemas naturais ou semi-naturais oferece inúmeros benefícios adicionais.
Além de melhorar a disponibilidade de água e sua qualidade, "é possível aumentar a produção agrícola por hectare com um melhor gerenciamento da água" e, assim, poder alimentar mais pessoas, diz Stefan Uhlenbrook, coordenador do programa global das Nações Unidas para avaliação de recursos hídricos.
No entanto, essas soluções permanecem "marginais".
"Os dados precisos não estão disponíveis", mas os investimentos nessas técnicas "parecem menos de 1% (...) do investimento total em infraestruturas e gerenciamento de recursos hídricos", de acordo com o documento.
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