A Operação Anzol Sem Ponta, deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira (22), concluiu que “falsos pescadores” compravam kit de pesca para forjar a atividade e receber o Seguro-Desemprego do Pescador Artesanal, conhecido como “Seguro-Defeso”, em Goiás e Minas Gerais. A corporação estima que as fraudes somam R$ 700 mil.
A ação prendeu dois dirigentes de associações e está com um mandado de prisão em aberto contra um ex-vereador de Cachoeira Dourada, no sul goiano. Os nomes dos investigados não foram divulgados.
De acordo com a delegada Marcela Rodrigues de Siqueira Vicente, chefe do Núcleo de Inteligência da PF em Goiás, esta etapa da operação teve como alvo os coordenadores do esquema, que, segundo ela, pode ter fornecido 35 seguros de forma ilegal.
O “Seguro-Defeso” é pago para pescadores que não dispõem de outra fonte de renda no período em que a pesca é proibida. O benefício mensal é de pouco mais de R$ 960.
“Foi identificado que as pessoas tinham outras fontes de renda e, mesmo assim, recebiam o benefício. Eles entravam em contato com os coordenadores, que vendiam a tralha de pesca, como vara e anzol, e davam orientações comportamentais para os ‘falsos pescadores’."
"Eles chegavam, por exemplo, a falar pra eles colocarem placas de ‘vendem-se peixes’ na porta das casas, para forjar a atividade e poder passar despercebido em algum tipo de fiscalização”, explicou Marcela.
“Como existe um agente político envolvido, e estes falsos pescadores não pagavam nada pela fraude, a gente apura se estes seguros eram distribuídos com fins políticos, mas isso ainda vai ser investigado”, disse a delegada.
A Operação Anzol Sem Ponta foi deflagrada nesta manhã, em Itumbiara, Cachoeira Dourada, ambas na região sul de Goiás, Centralina e Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Dois dirigentes de associações foram presos em Itumbiara. O ex-vereador não foi preso, pois está internado em um hospital de Brasília.
As investigações começaram em 2016, a partir de uma notícia-crime enviada pela Receita Federal à Polícia. Segundo Marcelo Ávila, chefe da Secretaria de Previdência Social do Ministério da Fazenda, o órgão identificou um número exacerbado de Cadastro Único no INSS (CEI), um dos pré-requisitos para o recebimento do benefício, na região de Itumbiara.
“A partir de então, fizemos cruzamento de dados e observamos evidências de que aqueles supostos pescadores que recebiam o benefício não exerciam a profissão. Tinha caso de mãe e filha, manicures, que recebiam o benefício. Uma família era dona de veículos de carga e recebia o seguro. Em outro caso, identificamos mototaxistas relacionados às fraudes”, afirmou.
Segundo a PF, a ação conta com a participação de 270 policiais federais, além de sete servidores da Coordenação-Geral de Inteligência Previdenciária (Coinp) da Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda.
Os investigados foram indiciados pelos crimes de associação criminosa, estelionato qualificado, falsidade ideológica, uso de documento falso e corrupção ativa e passiva. As penas chegam a 12 anos de prisão.
Fonte:https://g1.globo.com/go/goias
|