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Ciência do consumidor: quanto custa seu CPF? |
Data Publicação:20/10/2018 |
Quando solicitam o número do seu CPF em uma loja, mercado ou rede de farmácias, você é automaticamente levado a associar a questão a descontos e benefícios que a informação pode proporcionar. No entanto, um número crescente de suspeitas levanta a hipótese de seus dados são compartilhados com outras empresas, sem o seu consentimento. Assim, o consumidor se torna um alvo fácil de promoções, marketing digital, manipulação e até mesmo espionagem. Quanto custa seu CPF?
Quando você vai às compras, um mundo de possibilidades se abre nas prateleiras. No entanto, pode ser que os seus dados pessoais é que estejam à venda e, talvez, você nem tenha percebido.
Esse tipo de invasão de privacidade pode acontecer já no momento em que o atendente do estabelecimento comercial pede seu número de CPF, antes mesmo de saber qual será o seu pedido ou produto que você deseja. Muitas vezes o questionário continua até que o cliente forneça números de RG, endereço, e-mail e até mesmo de terceiros. Parentes e amigos com quem o comércio possa entrar em contato.
Lembrando: até aqui você ainda não conseguiu fazer o seu pedido. Um pesadelo, certo? Mas porque o simples ato de fazer uma compra acaba se tornando uma entrevista do cliente? E porque nos acostumamos com isso? “Acontece que o nosso CPF se tornou substituto dos números dos nossos documentos oficiais de identidade (RG, CNH, identidade profissional), que são os meios legais hábeis a comprovar quem somos para qualquer pessoa ou autoridade”, responde Yuri Sahione, advogado especialista em Direito Penal.
Como é que um documento que não possui nem mesmo fotografia do titular se tornou fundamental para a identificação das pessoas? “Porque a todo tempo existem diversos bancos de dados e robôs analisando cada passo da nossa vida para traçar perfis sócio-econômicos e aperfeiçoar estratégias de vendas ou para venda desses dados. Tudo sem o conhecimento e consentimento dos proprietários dessas informações”, avalia o especialista em Direito Penal.
Esse tipo de procedimento já vem sendo adotado no mundo todo e já possui nome: Ciência do Consumidor. Ao coletar dados dos clientes, as empresas alimentam um banco de dados, que você nem sabia que existia ou mesmo se deveria existir. “Para tentar explicar, começo dizendo o quão banal ficou a utilização dos nossos CPFs. O CPF é o número de contribuinte de imposto sobre a renda, ou seja, por detrás do nosso CPF está o sigilo bancário e fiscal pessoal”, explica Yuri Sahione.
Quando uma farmácia ou lanchonete oferece um desconto em troca do número do seu CPF ou e-mail, por exemplo, o preço pago por tal benefício pode ser mais alto do que você gostaria de pagar: sua privacidade. Ao fornecer esses dados, as bases de informações das empresas se tornam cada vez mais preparadas para analisar o comportamento dos clientes. Assim, algoritmos são criados para monitorar e manipular desde promoções até mesmo a disposição dos produtos nas gôndolas.
Um caso se tornou notório nos últimos meses, quando a Comissão de Proteção dos Dados Pessoais do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) abriu uma investigação a fim de apurar a já conhecida prática de redes de drogarias ao pedir o CPF dos clientes em troca de descontos.
De acordo com Frederico Meinberg Ceroy, coordenador da Comissão, a suspeita é de que as drogarias estão gerando perfis de consumo dos cidadãos e compartilhando-os com parceiros sem a devida autorização. Uma invasão de privacidade sem precedentes no comércio brasileiro.
Mais do a privacidade, a coleta e compartilhamento indevido de dados pode alimentar algo mais grave, como a manipulação socioeconômica por parte das empresas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a prática já possui um mercado enorme conhecido pelo nome de “Data Broker”.
Em tradução livre, o termo significa “corretagem de dados”. Ou seja, a compra, venda, distribuição e, pior, manipulação das informações obtidas através desse tipo de coação contra o cliente. Afinal, muitas vezes você não consegue fazer uma compra sem fornecer seu CPF ou sem concordar com os termos de uso de um aplicativo digital, certo?
Quem é que nunca se viu atacado por um anúncio de um produto que acabara de comprar ou pesquisar na internet? Pior, até pouco tempo, teorias levantavam a hipótese de que aparelhos, como celulares e computadores “ouviam” nossas conversas para municiar empresas com as informações necessárias para nos mostrar a publicidade certa, no momento adequado. Aposto que você já passou por algo parecido.
Fonte:Yahoo.com
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