O homem brasileiro está barrigudo, sedentário, acima do peso e, além de tudo, desatento. A maioria não sabe que a famosa barriga de chope pode trazer uma conseqüência para lá de infeliz: a falta de ereção. Uma pesquisa comportamental feita com 5 mil homens pela SBU(Sociedade Brasileira de Urologia) faz um raio-X da saúde masculina e mostra que 51% estão acima do peso, 64% nunca realizaram um exame para medir os níveis de testosterona, 38% não costumam ir ao médico com freqüência, 23% relacionam a obesidade ao envelhecimento e 37% admitem o uso de remédio para ereção. O risco de impotência aumenta em homens com mais de 94 centímetros de circunferência abdominal, principalmente depois de 40 anos. Essa gordura chamada visceral gera estrogênio, cortisol e leptina, substâncias que diminuem a produção de testosterona, um dos principais combustíveis sexuais masculinos. Segundo o endocrinologista João Eduardo Salles, 40% dos obesos têm baixos níveis de testosterona no corpo. “Uma das principais partes do organismo afetadas pela obesidade é a hipófise, o que acarreta uma menor produção de hormônios que estimulam os testículos a produzirem a testosterona”, detalha Salles. O hormônio em baixa dosagem causa alteração de humor, problemas de ereção e sonolência, aumenta a gordura abdominal e diminui a libido, explica o urologista Archimedes Nardozza Junior, diretor do Núcleo de Pesquisa da SBU. “Os homens só batem na porta do médico quando ocorrem problemas na próstata e de questão sexual, muitas vezes levados pelas mulheres. A maioria desconhece a ação da testosterona, que começa a diminuir a partir dos 40 anos, de forma lenta e gradativa, mas com grande impacto no organismo”, afirma Nardozza Junior. Mais testosterona, menos barriga.
Resultados de um estudo do endocrinologista alemão Farid Saad, da área científica do laboratório Bayer na Alemanha, mostram que homens podem emagrecer e diminuir circunferência abdominal com a reposição hormonal. A pesquisa, apresentada durante um encontro da Sociedade de Endocrinologia, nos Estados Unidos, acompanhou por cinco anos 115 homens com baixos índices de testosterona. Com a reposição hormonal, dieta e exercícios, eles perderam, em média, 16 quilos e a circunferência abdominal reduziu de 107 para 98 centímetros. Outro grupo com 255 homens e idade média de 60 anos colocou os níveis de testosterona em ordem e teve uma melhora no problema da disfunção erétil. Além da perda de peso, em cinco anos, eles reduziram 8,8 centímetros na medida de circunferência abdominal. “É muito difícil comparar todos os estudos, já que são diferentes em muitos aspectos. Mas sabemos que os homens não relacionam o aumento de peso, o tamanho da barriga, a dificuldade em ter ereção e a baixa testosterona. Eles pensam nessas condições como fenômenos independentes. Grandes estudos epidemiológicos têm analisado essas condições juntas”, explica o endocrinologista alemão. Dados mundiais apontam que aproximadamente 20% da população masculina têm algum sinal de síndrome metabólica: obesidade, diabetes, pressão alta e colesterol ruim elevado, fatores que também prejudicam a ereção. Isso, somado ao tabagismo, aumenta ainda mais o risco para doenças coronarianas. “Cada fator aumenta um pouco o risco. O cigarro eleva em uma vez e meia as chances de doenças coronarianas. O colesterol e a glicemia alterados mais que dobram os riscos”, salienta Nardozza Junior. Bom humor e menos cansaço
Uma revisão de tudo o que foi publicado até hoje na literatura médica sobre os efeitos da testosterona na composição corporal, divulgada no periódico Current Diabetes Reviews, mostra que os níveis de testosterona em dia contribuem também para a melhora do humor e a redução da fadiga. Mas a reposição hormonal só deve ser feita com indicação e acompanhamento médico, como exames de controle a cada três meses. Entre os efeitos colaterais, a reposição pode levar a um aumento de glóbulos vermelhos, além disso, quem ronca por apneia do sono pode ter uma piora no quadro. Daí a importância das consultas e exames de sangue regulares para um eventual ajuste da dose. “Só recomendamos a reposição quando o indivíduo tem nível inferior a 300 nanogramas por decilitro. Hoje, já existe uma dose única, injetável, para três meses. Não é recomendada a reposição para homens que ainda pretendem ter filhos porque inibe a fertilidade. Há jovens que usam o hormônio como anabolizante, o que é um erro”, orienta o endocrinologista Farid Saad.
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