Aplicativos vendem auto-hipnose, prometendo tratamento de insônia, perda de peso e baixa autoestima. Associação Brasileira de Hipnose contesta eficácia e esclarece o processo clínico.

Em recente estudo realizado pela Faculdade de Medicina Monte Sinai, em Nova York, EUA, constatou-se a existência de mais de 400 aplicativos (Apps) de hipnose disponíveis no iTunes, plataforma do grupo Apple. Deste total, especialistas calcularam que 23% dos dispositivos prometiam perda de peso, 20% garantiam melhorar a autoestima e 19% se propunham a relaxar e reduzir o estresse de seus usuários. Porém, após a investigação, o estudo averiguou que nenhum destes aplicativos possuía sua eficiência testada, além de não estarem baseados em evidências científicas. A hipnose clínica, técnica cientifica, realmente tem efeito sob as questões citadas – mas não se realizada desta forma. Tratando o assunto no Brasil, a Associação Brasileira de Hipnose (ASBH) questiona a legitimidade destes aplicativos.

“Ainda não se sabe os riscos do uso contínuo destes aplicativos”, explica a Presidente da ASBH, Célia Cortez. “A técnica é complexa e só pode ser realizada por médicos, psicólogos e dentistas preparados”, averigua. Em termos simples, a hipnose é um estado de profundo relaxamento no qual o consciente e o inconsciente do paciente podem ser focalizados para ficarem mais receptivos à sugestão terapêutica. Utilizada na área clínica no mundo inteiro, sua prática já é regulamentada pelos conselhos federais brasileiros de Medicina, Odontologia, Psicologia e Fisioterapia, firmando-se como tratamento auxiliar na atividade destes profissionais de saúde. O número de pesquisas publicadas por ano sobre Hipnose teve um acréscimo de 50% na última década, segundo o banco de dados científico Pubmed. Estes recentes avanços reforçam a aceitação da prática pela Medicina Ortodoxa.

Seguindo a mesma linha dos aplicativos da Apple, na Google Play, responsável pelas tecnologias dos dispositivos Android, também são encontradas diversas promessas semelhantes. O app Self Hypnosis, distribuído pela MobiHypnos por R$ 7,12, vende a promessa de regressão, técnica de acesso ao subconsciente que só deve ser realizada por profissionais de alto gabarito. Já o Dormir Pílulas, Globalapps R, R$ 7,12, garante uma boa noite de sono, incluindo auto-hipnose em mais de 30 idiomas. Outros dispositivos são incomuns e irreverentes. Hipnose Horror, 5C-Basic Distribution, R$ 6,45, garante uma “hipnose trem-fantasma”, em que os usuários vivenciam momentos tenebrosos. Link do estudo: http://goo.gl/UXps5T

Célia Cortez

Psiquiatra e Neurocientista. Especialização em Hipniatria pela UNIRIO; Médica, Bacharel e Licenciada em Física (UERJ); Doutora em Ciências (CBPF) e Mestre em Biofísica (UERJ). Realizou Pós-doutorado em Ciências (2003-2004) na USP de São Carlos e foi Research Fellow na The Open University, Inglaterra (2009-2010).

Sobre a ASBH

A Associação Brasileira de Hipnose, fundada em 1957, é uma entidade civil sem fins lucrativos de âmbito nacional, com sede e foro na cidade do Rio de Janeiro. Como entidade de referência da Hipnologia no país, a ASBH tem como finalidades: fomentar de pesquisas hipnológicas; trabalhar e zelar pelo respeito à ética profissional, pela defesa, regulamentação e fiscalização do exercício da hipnose; congregar os hipniatras e hipnólogos brasileiros, estimulando as relações científicas e culturais; promover e colaborar em cursos de habilitação, aperfeiçoamento, especialização e de divulgação da hipnose, bem como em reuniões, jornadas, congressos e outros eventos da área científica de Hipnologia. Mais informações: www.asbhipnose.org