O governo federal não vai mais apoiar
nenhum dos projetos em tramitação no Congresso que aumentem as penas
para crimes cometidos durante manifestações. A informação foi dada nesta
quinta-feira pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da
República, Gilberto Carvalho.
“Essa é a nossa posição, nós vamos caminhar
nessa perspectiva e temos confiança de que sairemos bem lá no final”,
disse Carvalho, que esclareceu que a posição do governo mudou após
discussões internas e de consultas à sociedade.
Segundo Carvalho, a presidente Dilma
Rousseff decidiu recuar da ideia após consultar as diversas áreas do
governo. “A [presidente] Dilma, ouvindo a sociedade, como é de bom tom
em qualquer governo democrático, e ouvindo o governo, as suas áreas,
chegou à conclusão de que não era o caso de nós fazermos uma nova lei em
relação à questão das manifestações”, esclareceu.
“É um gesto em que a presidenta estende a
mão para a sociedade no sentido de confiar que já há a maturidade, há
condições de nós realizarmos as manifestações sem a ocorrência
efetivamente da violência”, complementou.
O anúncio ocorre um mês depois do ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, ter se reunido com os presidentes da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), para tratar do tema. Na ocasião, Cardozo apresentou os pontos
considerados chave pelo Palácio do Planalto e manifestou concordância
com o projeto de lei (PLS 508/13) relatado pelo senador Pedro Taques
(PDT-MT).
De acordo com Carvalho, entretanto, Cardozo
não teria manifestado apoio a nenhuma iniciativa. “O próprio ministro
Cardozo deixou claro ao Congresso que não havia nenhum compromisso de
governo com os projetos que estão tramitando no Senado. Ele foi
explícito. Ele deixou claro que não havia apoio a nenhum dos projetos”,
afirmou.
Porém, no início do ano, o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, chegou a anunciar que o governo
encaminharia, ao Congresso Nacional, um projeto de lei para combater o
vandalismo em manifestações e que pediria regime de urgência. O objetivo
era fazer com que as regras já valessem para os jogos da Copa do Mundo,
que começam no dia 12 de junho.
A mudança de posição do governo ocorreu
diante da reação de movimentos sociais. No âmbito do governo, a proposta
não era consensual. Em abril, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo,
posicionou-se contrário ao endurecimento das penas por atos violentos
praticados em manifestações.
Gilberto Carvalho avalia que o país já
dispõe de legislação voltada para punir aqueles que cometem crimes
durante as manifestações. “O nosso aparato legal já permite que sejam
punidos aqueles que tiverem comportamentos que violem direitos humanos,
que, de alguma forma ou de outra, quebrem esse procedimento
democrático”, pontuo.
Ontem, a Constituição de Constituição e
Justiça (CCJ) realizou sessão para debater o substitutivo do senador
Pedro Taques (PDT-MT). A sessão foi suspensa por falta de acordo. O
projeto em discussão altera o Código Penal para reprimir os crimes
cometidos durante manifestações ou durante concentração de pessoas.
O texto propõe o aumento da pena para crime
relacionado ao patrimônio, permite que a autoridade policial possa
investigar os danos e qualifica o homicídio praticado nas manifestações,
prevendo pena com reclusão de 12 a 30 anos e eleva em até 50% a pena
para lesão corporal cometida naquelas circunstâncias.
O uso de máscara, capacete ou qualquer
outro utensílio ou expediente destinado a dificultar a identificação,
segundo o substitutivo, seria um agravante para a pena. Por fim,
tipifica o dano ao patrimônio público ou privado praticado durante
manifestações públicas. Se aprovado, a pena será de reclusão de dois a
cinco anos, além de multa.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)
pediu a rejeição do projeto. A posição foi seguida pelo petista
Lindbergh Farias (PT-RJ). Ambos argumentaram que a medida visa a
criminalizar os movimentos sociais e as manifestações. Diante do
impasse, outro petista, o senador Humberto Costa (PT-PE), sugeriu a
suspensão da reunião. Com isso, a decisão sobre o projeto foi
transferida para a próxima quarta-feira (21).