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Aplicativos de paquera fazem sucesso entre atletas |
Data Publicação:12/08/2016 |
Desde os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, surgiu o folclore de que a paquera entre atletas é grande nas vilas olímpicas. Por lá, os atletas esgotaram um estoque de 80 mil camisinhas distribuídas pela organização. No Rio esse número é de 450 mil.
Em Londres-2012, a goleira da seleção americana de futebol Hope Solo disse que viu gente transando até ao ar livre. Um atleta brasileiro que já foi a quatro olimpíadas garantiu à reportagem que há certa dose de exagero. Verdade ou não, os atletas têm hoje ferramentas que facilitam e estimulam a azaração.
Levantamento feito pela Folha na região dos Jogos mostra que há ao menos 47 atletas de 21 nacionalidades com perfil ativo em aplicativos de paquera como Tinder, Hapnn e Grindr. Do total, 26 são mulheres e 21, homens. Ao menos três são medalhistas olímpicos.
Segundo o Tinder, os "matches" – quando duas pessoas se curtem mutuamente – mais que dobraram na região da Vila Olímpica em relação à média do Rio no ano. Houve um aumento de 129% em relação aos matches diários na cidade.
A reportagem decidiu não divulgar o nome dos usuários sem autorização. Os curiosos que estiverem na região do Parque Olímpico podem acessar o app e ver brotar na tela homens e mulheres em trajes esportivos e em selfies dentro das instalações da Rio-2016.
Um astro da NBA usa um de seus nomes menos conhecidos no aplicativo. Uma atleta russa do vôlei de quadra e um remador americano dizem ser mais jovens do que são.
Um nigeriano do time de basquete descreve-se como "tall, dark and handsome" (alto, escuro e bonito, em tradução livre).
Uma remadora da Austrália relata em seu perfil estar lá apenas para uma prática tão comum quanto sexo na Olimpíada: a troca de material esportivo entre integrantes de delegações.
Com cinco pessoas, o Canadá é o país com mais atletas ativos nos apps de paquera pesquisados. Estados Unidos (quatro) e Argentina (quatro) empatam em segundo lugar.
O bronze da azaração é dividido por Brasil, Holanda e Polônia, com três representantes cada. Os esportes aquáticos parecem despertar uma espécie de predisposição para a paquera, assim como rugby e o remo.
O ciclista de estrada holandês Matthijs Buchli, 23, que compete em sua primeira Olimpíada, diz é comum entre os atletas o uso de aplicativos de paquera. "As pessoas não têm muito o que fazer na vila. Então passam o dia no celular, zapeando no Tinder", disse. Se ele já pegou alguém? "Isso não digo".
Dois atletas canadenses da vela disseram à reportagem que muitos esperam passar suas competições para habilitar o perfil em aplicativos de paquera.
SALTOS ORNAMENTAIS
Ninguém quer se expor antes de competir, sob o risco de ser julgado no tribunal das redes sociais, como o que ocorreu com a atleta brasileira de saltos ornamentais Ingrid Oliveira, 20.
Ela teve uma briga com sua dupla na prova de saltos sincronizados, Giovanna Pedroso, e foi tornado público que ela teve um affair na Vila Olímpica poucos dias antes da prova em que ficou em último lugar. Com ou sem paquera, de acordo com jornalistas esportivos que cobrem os jogos, a tendência era que ficassem em último mesmo.
A jovem foi alvo de comentários sexistas nas redes sociais. A Folha conversou com Ingrid antes de a história vir a público. Na ocasião, ela demonstrou irritação com o rótulo de musa. "Por que ninguém fala que fui medalhista de prata em Toronto-2015? Só falam do meu corpo. Isso é chato."
Ingrid ficou surpresa quando a reportagem lhe mostrou seu perfil ativo no Tinder. "Ih, mas eu não sabia que estava ativo ainda. Já deletei há algum tempo. Eu namorava antes dos jogos, mas brigamos e decidimos conversar depois da Olimpíada. Já usei, sim, que mal tem?", disse.
RYAN LOCHTE
Contas de Instagram, como @Sportsswipe, estão reunindo fotos de atletas que têm perfis no aplicativo de encontros.
A conta @tinderrio traz apenas fotos de esportistas que foram localizados, via Tinder, na região da Vila Olímpica, estádios e centros de treinamento. Entre os fichados, está uma das estrelas da natação americana, Ryan Lochte, que já assumiu publicamente ser um usuário do app.
"Ouvi que [o uso do Tinder entre atletas] começou [nos Jogos de Inverno de 2014] em Sochi e pensei 'deixe eu tentar isso'", disse o medalhista olímpico em entrevista à revista americana "Cosmopolitan".
"Dei 'match' com muitas mulheres lindas e inteligentes, mas não tive nenhum encontro ainda", afirmou, antes dos Jogos começarem.
Os Jogos de Inverno da Rússia parecem ter sido mesmo um marco no uso de aplicativos para encontros por atletas. Na época, a atleta de snowboard americana Jamie Anderson afirmou que "o Tinder na Vila Olímpica é outro nível. São só atletas!"
Depois de algum tempo, no entanto, ela deletou a conta no app, que a estava "distraindo" do objetivo olímpico. O esforço parece ter valido a pena. A atleta ganhou uma medalha de ouro.
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